quarta-feira, 17 de abril de 2013

Recontando a Lenda do Açaí

Recontando a Lenda do Açaí
Parecia não ter fim aquela chuva que começara próximo ao por do sol, caiam relâmpagos e trovões estrandecentes na floresta, animais, curumins e índios estavam paralisados em suas ocas, todos respeitavam a força de Tupã. Muitos índios acreditavam que ele castigava a tribo com a pior doença: a escassez da caça, a qual automaticamente provocava a doença da fome. Muitos índios suspiravam os seus últimos momentos. De um a um “iam ao encontro” de Tupã.

Itaki, o cacique supremo da aldeia, pediu que todos dançassem bravamente à Tupã para que ele tivesse piedade da tribo e mostrasse os rumos fartos da caça, da pesca. Horas depois Itaki, pegou em seu amuleto sagrado, que levava no peito e anunciou ao seu povo:

- Vou até o centro da mãe natureza falar com Tupã. Vou pedir pra ele acabar com o nosso sofrimento, tenho certeza que Tupã mostrará misericórdia ao nosso povo e apontará uma saída.!

Itaki olhou para o curandeiro, (o médico da tribo) e o chamou para acompanhar-lhe mata adentro, assim o fizeram. A chuva não dava trégua, os dois já andavam por mais de 10horas e não chegavam ao objetivo, o sol já dava os primeiros sinais do chegar do dia. De repente Itaki olhou para o curandeiro e disse:

- Venha comigo Guaracy já chegamos. Não fale nada.. Fique de joelhos e de cabeça abaixada, agora vou invocar o grande Tupã pra pedir-lhe conselhos.

Itaki, segurou o seu amuleto e em alto e bom som bradou respeitosamente a Tupã, dizendo o seguinte:

­ Tupã!!!Tupã!! Por favor, fale comigo, escute minhas súplicas, mostre um caminho, pra salvação do meu povo. Eles estão morrendo de fome! se quiseres te darei a minha vida, mas faça o meu povo sobreviver a essa moléstia de fome, daí-nos caça novamente!

Após alguns chamados, redundantemente suplicantes de Itaki, ouviu-se uma voz forte, que tornava-se Inexplicavelmente suave dizendo o seguinte:

- Vocês esqueceram-se de mim! Desprezaram a mãe natureza, tiraram vidas de animais inocentes, por isso tirei quase todo o alimento das florestas, mas como sou benevolente, ouvi suas súplicas. Por isso farei um acordo com a sua tribo: “nenhuma criança poderá nascer em sua aldeia, durante um período de dez luas minguantes. Se nascer uma só criança... ela deverá ser sacrificada, para lembrarem que eu existo, nesse período vocês também deverão cuidar muito bem da mãe natureza. Mas, para a tua alegria e a tua tristeza, acharás na décima lua minguante uma palmeira e chorarás aos pés do teu achado. Essa palmeira receberá o nome de trás para frente daquela que sorri para o alto, se tudo for cumprido como acordado tua tribo nunca mais terá fome.

- Muito obrigado Tupã, eu aceito e cumpriremos esse acordo, tenho certeza que não lhes decepcionaremos - Disse Itaki.

Emocionado e feliz o cacique pegou no braço do curandeiro o levantou e voltaram à aldeia. Itaki reuniu todos os membros da aldeia: mulheres, curumins, guerreiros e sábios. Em seguida informou o pacto que havia feito com Deus Tupã.

Daquele dia em diante o pacto tornou-se lei, quem o desobedecesse pagaria com as normas pactuadas com o Deus Tupã. Após o anuncio de Itaki todos sinalizaram positivamente e se comprometeram a cumprir o pacto que tornou-se LEI.

Passados nove luas minguantes descobriu-se o inesperado. Iaçá a filha predileta de Itaki de aproximadamente 17 primaveras, de cabelos escuros e lisos como um sarapó, olhos pretos, e pele macia como de um coelho, estava grávida. Quando a tribo descobriu a gravidez de Iaçá, todos os índios saíram para fora de suas ocas e começaram a chorar, por que sabiam que esse ato inesperado quebrava o acordo feito com o Deus Tupã. A única alternativa seria sacrificar a criança.

Itaki passou vários dias enclausurados em sua oca pensando no que iria fazer. Quando ouviu o choro de nascimento da neta, também chorou, gritou em silêncio para que ninguém ouvisse ou visse o seu sofrimento, amassou fortemente o amuleto que carregava em seu pescoço, até ferir-lhe a mão. Passados sete dias Itaki saiu de sua oca, foi até o local no qual encontrava-se Iaçá, ela estava feliz e sorridente pois ainda encontrava-se com a filha nos braços.

Sem alternativas Itaki pegou a neta nos braços e mandou reunir a tribo, quando todos estavam presentes, inclusive Iaçá, o cacique da tribo disse em alto e bom tom:

- A mesma lei aplicada às famílias dos caçadores, dos guerreiros, dos sábios e dos curandeiros, serve pra a família do Cacique. Nasceu uma criança inesperada, mesmo sendo a minha neta, não posso contrariar Tupã. Por isso, curandeiro, leve a menina pra pedra de sacrifício e a envie a Tupã.

Iaçá por mais que estivesse ciente do pacto firmado com o Deus da tribo, gritava e chorava pedindo clemência ao pai e ao Deus Tupã, mas de nada adiantou, a filha de Iaçá foi sacrificada para preservar o pacto feito com o Deus Tupã. Após o sacrifício Iaçá perdeu o sorriso do rosto, parou de comer, não sentia gosto para nada, todos os dias ela chorava diuturnamente, vivia enclausurada em sua oca. Itaki olhava para a filha, a compreendia e sempre pedia para ela esperar um pouco mais, pois logo, logo a lei seria revogada e poderia engravidar novamente.

Mas, antes que isso acontecesse, Iaçá ouviu um choro vindo da floresta, sentou-se e ficou esperando para ver se não estava delirando, minutos depois ouviu novamente e com maior intensidade. A índia tinha certeza que era o choro de sua filha que fora sacrificada, então Iaçá levantou-se, saiu da oca e seguiu o som do choro mata adentro. Andou por mais de três dias, certa noite viu ao pé de uma Palmeira, um vulto e o choro intenso, Iaçá rodeou a palmeira por várias vezes até cansar e cair ao pé da Palmeira, em sua queda olhou para cima sorriu e disse:

- Vida! Filha!!! Vida! Obrigado meu Deus Tupã.

Após essas palavras Iaçá foi ao encontro de Tupã.

Itaki estava muito preocupado com o desaparecimento de Iaçá. O cacique e vários guerreiros da aldeia, procuravam na floresta a jovem iaçá há alguns. Quando todos se preparavam para voltar à aldeia um índio gritou:

- Cacique Itaki! Cacique Itaki!!Achei, Achei a jovem Iaçá.

Todos correram ao encontro do chamado, viram a jovem morta, ela estava sorrindo e com os olhos abertos, como se indicasse alguma coisa boa. Itaki aproximou-se e disse:

- Filha! Filha, foste abençoada por Tupã, partistes com o sorriso na alma.

Itaki, olhou para o alto, na mesma direção apontada pelo sorriso de Iaçá, e viu vários frutinhos, em seguida chamou um Índio , que rapidamente fez uma peçonha, subiu na palmeira e apanhou um cacho das frutinhas e os entregou ao cacique, curiosamente Itaki olhou ao seu redor, viu uma imensa variedade dessa Palmeira e compreendeu os fatos:

- A partir de hoje, todos podem ter filhos novamente, pois Tupã nos mostrou o alimento que prometera há algumas luas atrás, quando ele me falou: “para a tua alegria e a tua tristeza, acharás na décima lua minguante uma palmeira e chorarás aos pés do teu achado. Essa palmeira receberá o nome de trás para frente daquela que sorri para o alto”. Por isso o nome desse fruto será Açaí, de trás pra frente Ìaça. Bem como cuidaremos cada vez mais da nossa natureza para nunca mais faltar alimento pra nossa aldeia. Vamos pegar da terra somente o necessário, vamos cuidar e plantar cada árvore derrubada.

E assim foi feito a tribo de Itaki nunca mais passou fome, pois cuidavam muito bem da natureza, a caça e a pesca tornou-se novamente abundante. A palmeira de Açaí tornou-se uma planta sagrada, o vinho do açaí passou a ser misturado há uma iguaria chamada farinha. O açaí tornou-se o prato típico da família indígena. Todos os curumins que nasciam na aldeia de Itaki tomavam uma cuia generosa de açaí para tornarem-se os guerreiros mais fortes e mais sábios da região, eles também tornaram-se os principais protetores e preservadores das terras do Açaí.

Asarias Favacho de Freitas

Belém,

março de 2013.


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