terça-feira, 6 de novembro de 2007

A Importância da Inclusão Digital para Frear a Exclusão Social

A Importância da Inclusão Digital para Frear a Exclusão Social

Por: Asarias Favacho de Freitas
Coordenador do CTAE-SEDUC, Sociólogo, especialista em Gestão Educacional, Mestrando em Ciência da Educação

        O mundo capitalista contemporâneo é dominado pelos que manipulam a estrutura e superestrutura da sociedade, conseqüentemente, emana alguns direcionamentos relacionados às questões políticas, culturais, sociais, étnicas.... condizentes com a forma hegemônica de gestar tais questões.

       O mundo da tecnologia de informação e comunicação não foge a esta regra, é direcionada pelos donos do capital que promovem a exclusão social, que por sua vez, consequenciará a exclusão digital;  o analfabeto informacional, e o analfabeto digital, caso não exista políticas públicas voltadas a estes excluídos, certamente estarão fadados à miséria da era pós-contemporânea, pois esta era incluirá as TIC como pressupostos básicos para o mercado de trabalho.

        O momento histórico da atualidade é dinâmico e constante por isso possibilita várias contradições sociais, bem como o mundo social do trabalho pré-estabelecido pelo poder estruturante, contribui ao acirramento competitivo a uma vaga de trabalho ou a uma vaga para o exército de reservas de trabalhadores(desempregados), em virtude dos "trabalhadores não acompanharem" as evoluções tecnológicas no mundo produtivo, em outras palavras, em virtude dos trabalhadores serem excuídos, alijados das tecnologias que estão centralizadas nas mãos de alguns poucos.

      Alguns exemplos clássicos de alijamentos tecnológicos pelos quais passaram alguns trabalhadores estão diretamente relacionados aos bancários, os quais foram substituídos por máquinas eletrônicas a partir de 1980, ou ainda a categoria dos gráficos que trabalhavam com máquinas manuais, grafopresso, de linotipo, prelos ou com a tipografia, esses trabalhadores, principalmente os que não acompanharam o avanço tecnológico, foram substituídas por máquinas offset (multcores), de alta capacidade funcional, uma enxurrada de HP's.... Não quer dizer que as dinâmicas tecnológicas sejam as vilãs do processo, visto que no mundo de tecnologia de informação e comunicação as informações e as mudanças são automáticas. 

      A centralização das tecnologias e do conhecimento tecnolçógico certamte propiciará um abismo social de excluídos pela tecnologia, essa questão contribuirá para deixar uma geração em conflito com a geração vindoura do mundo tecnológico. Talvez por essas e tantas outras questões Castells enfatiza:
Um novo mundo está tomando forma neste fim de milênio. Originou-se mais ou menos no fim dos anos 60 e meados da década de 70 na coincidência histórica de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação; crise econômica do capitalismo e do estatismo e a conseqüente reestruturação de ambos; e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como libertarismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo. A interação entre esses processos e as reações por eles desencadeadas fizeram surgir uma nova estrutura social dominante, a sociedade em rede; uma nova economia, a economia informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real. A lógica inserida nessa economia, nessa sociedade e nessa cultura está subjacente à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente.

      Vale ressaltar que a democratização do acesso às tecnologias da informação, tornou-se assunto de grandes debates nos últimos tempos e precisa ser compreendida para que as discussões possam gerar subsídios apropriados para as políticas brasileiras, não só em ciência, tecnologia e inovação, mas nas políticas públicas em educação, saúde e entre as estratégias gerais de desenvolvimento. 

       A inclusão digital insere-se no movimento maior: a inclusão social, um dos grandes objetivos compartilhados por diversos governos ao redor do mundo nas últimas décadas.

        Nos últimos anos, vemos no Brasil o desenvolvimento de ações diversas visando a inclusão digital como parte da visão de sociedade inclusiva, entendendo que o fator causador da exclusão digital na pós-modernidade gera a desigualdade social. A alta desigualdade, nossa principal chaga, criou uma grande demanda por essas políticas sociais e apesar de nossa histórica instabilidade, temos avançado na implementação de políticas estruturais, indutoras de um reforço do estoque de riqueza dos pobres. O Brasil é um caso onde as ações redistributivas de combate à pobreza estão ocupando lugar de destaque.
       No entanto, a maioria da população brasileira ainda não tem acesso pleno ao mundo digital, segundo uma pesquisa¹ realizada pelo comitê Gestor de Internet no Brasil em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e com o IBOPE, mostrou que 68% dos brasileiros nunca usaram a internet e somente 9,6% a utiliza diariamente. A pesquisa apontou ainda que 55% da população brasileira nunca utilizou o computador, apenas 19,63% da população possui computador em seus domicílios, e na região norte esse percentual chega a 10,39%. A pesquisa apontou ainda que o principal motivo que promove o acesso à rede de informação é a Educação, já que 41% dos brasileiros utilizam a internet como ferramenta de apoio para atividades escolares. Um contraste interessante já que o baixo nível educacional é também circunstância limite à aquisição de habilidades requeridas para a utilização de equipamentos e o desfrute de acesso ampliado à informação.
       Informação é um elemento que vem sendo tratado como imprescindível para o convívio social. Antes disso, é também direito de todo cidadão, garantido por tratados e documentos internacionais, à exemplo da Declaração dos Direitos Humanos, que em seu artigo 19, menciona o direito de toda pessoa de receber e transmitir informações por quaisquer meios (SOUZA, 2002).
       A informação é tida como elemento que garante a interação social, pois é um bem comum que deve atuar como fator de integração, democracia, igualdade e dignidade humana (SALES, 2004). É também elemento dependente de estruturas de comunicação e tem produzido transformações no campo das telecomunicações. Esta realidade engloba um número cada vez maior de pessoas, no entanto, não se pode esquecer que é também expressivo o número de pessoas numa sociedade com as características sociais como a do Brasil, que não tem acesso a essas possibilidades tecnológicas, estando assim expostas a reduzidos pontos de acesso.
       Neste sentido, cresce a responsabilidade do setor produtor de Informática no sentido de democratizar essas possibilidades tecnológicas que garantam acesso à informação. Da mesma forma, os profissionais que atuam na área informacional devem, também, buscar opções que potencializem o acesso, considerando ainda as condições econômicas, que muitas vezes cerceiam a implementação de bons projetos. Assim, a implantação de Software Livre em unidades de informação tem sido uma medida cada vez mais comum. É um destes exemplos que o presente artigo pretende apresentar.
       Os sistemas integrados de gestão de bibliotecas visam automatizar os processos de uma unidade de informação dividindo-os em módulos, estruturando cada tarefa para que atue em conjunto no restante do sistema.
Segundo Todd (apud CAMPREGHER; GOMES; COSTA, 2004), “os sistemas de gestão de bibliotecas são tipicamente pacotes integrados que incluem módulos para a catalogação, OPAC, aquisição, circulação, controle de publicações seriadas, empréstimo entre bibliotecas [...]”.
       O chamado “software livre” é uma filosofia que idealiza o compartilhamento do código fonte de softwares desenvolvidos em colaboração ou não, por um ou vários programadores. De acordo com Silveira (2003, p. 37), “O GNU/Linux está baseado nos esforços de mais de 400 mil desenvolvedores espalhados pelos cinco continentes e por mais de noventa países”. E o autor ainda afirma: O movimento do software livre é a maior expressão da imaginação dissidente de uma sociedade que busca mais do que a sua mercantilização. Trata-se de um movimento baseado no compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores. (SILVEIRA, 2003, p. 36).
       Para melhorar esse quadro, ainda nos falta uma política pública de inclusão digital consolidada, em que o hiato da concentração do uso do computador pelos grandes centros e no litoral brasileiro possa ser superado. Pois dos 5.560 municípios brasileiros, 2.430 não contavam com acesso local a internet e em torno de 2.440 permaneciam sem cobertura de serviços de telefonia celular, no ano de 2005. Hoje este problema ainda é preocupante, já que cerca de 21 milhões de brasileiros ainda continuam a margem do acesso à rede internacional de computadores.
       Algumas ações, já começam esboçar resultados, como o projeto de inclusão digital do Governo Federal em parceria com os Governos Estaduais e Municipais, que tem como ações estratégicas a inclusão (UAB, cursos de graduação a distância, e pós-graduação, GESAC – Governo eletrônico – Serviço de atendimento ao cidadão) através de projetos que facilitam o acesso de pessoas de baixa renda às tecnologias da informação e comunicação (TICs), para o desenvolvimento de tecnologias que ampliem a acessibilidade para usuários com deficiência, e que pessoas de zonas de difícil acesso participem. A meta do projeto é atingir 50% da população brasileira em 2015 e 70% até 2022. E entendendo que o conhecimento é um bem público e não privado, o governo vem implantando uma série de ações que facilitam o uso do software Livre Linux, como proposta de solução para os anseios sociais de uma tecnologia aberta, que viabilizará todos os segmentos sociais a ingressarem no terceiro milênio em condições de igualdade no conhecimento da informática. Mas além do segmento governo e empresas estatais, as empresas privadas podem ser mobilizadas para unir esforços e agilizar o processo de inclusão digital, pois, como as tecnologias da informação estão a cada dia ganhando novos espaços, no futuro não muito distante, quem não estiver “incluído digitalmente”, viverá sob uma limitação social, podendo perder inclusive direitos garantidos à cidadania e para mudar esta realidade torna-se necessária construir uma nova sociedade, baseada noutros princípios éticos, econômicos, democráticos culturais... que viabilizem a justiça, a igualdade e a liberdade sócio-tecnológica.

Referências:

CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, vol. 3, São Paulo: Paz e terra, 1999, p. 411-439
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. In: SILVEIRA, S. A.; CASSINO, João (orgs.). Software livre e inclusão digital. São Paulo: Conrad, 2003. p. 17-47. SOUZA, Francisco das Chagas de. Ética e deontologia: textos para profissionais atuantes em
NEVES, Guilherme; SALES, Fernanda. Software livre e gestão de unidades de informação: implementando Gnuteca na Biblioteca da Procuradoria Regional do Trabalho em Santa Catarina: experiência didática
¹Ver pesquisa na integra pelo site do IBGE: www.ibge.gov.br

Estamos de volta!

Galera recuperei o nosso Bloger: socilizando conhecimentos por Prof. Asarias Favacho então voltarei a alimentá-lo