Por: Asarias Favacho: professor, sociólogo, especialista em gestão educacional e mestre em ciência da educação
Os descasos com a classe trabalhadora e os novos ricos, que bebem uísques (Whisky) por conta do sangue dos trabalhadores e trabalhadoras deste país.
No período da
consolidação do modo de produção capitalista, foi ideologicamente
implantado nas concepções cotidianas dos trabalhadores do campo e
da cidade, que o modelo de sistema capitalista facilitaria a vida dos
trabalhadores, pois pregava-se, liberdade, igualdade, fraternidade, a
livre concorrência e a possibilidade da venda da mão de obra dos
trabalhadores. Essa base ideológica foi difundida a princípio na
França e na Inglaterra, porque tais países foram o berço econômico
e ideológico da sociedade capitalista.
Após a consolidação
do capitalismo percebeu-se que os tais princípios ideológicos
pregados pelos burgueses foram mais uma vez, um ledo engano, pois os
trabalhadores passaram a sofrer na pele os horrores aplicados e
praticados pelos dirigentes do capitalismo (burgueses), assim como a
classe operária percebeu a necessidade de lutar contra as barbáries
pré-estabelecidas por tais dirigentes hegemônicos.
Vale lembrar que a luta
por melhores condições de trabalho e por mais direitos aos
trabalhadores na sociedade capitalista, remonta os medos dos séculos
XVIII e começa a eclodir desde a primeira revolução industrial,
através dos movimentos que possuíam concepções, marxista,
anarquistas e sociais-democratas, bem como eclodiram movimentos e
organizações ludistas, cartistas e as “trade-unions”(
associações de trabalhadores) as quais lutavam contra a crescente
e desordenada industrialização.
[...] Marcam época, na história da acumulação primitiva, todas as transformações que servem de alavanca à classe capitalista em formação sobretudo aqueles deslocamentos de grandes massas humanas, súbita e violentamente privadas de seus meios de subsistência e lançada no mercado de trabalho como levas de proletariados destituídos de direitos. “A expropriação do produtor rural, do camponês que fica assim privado de suas terras, constitui a base de todo processo”.( Marx. p. 830-1. )
A
crescente industrialização propiciou uma urbanização desordenada,
“unicamente” burguesa, pois não admitia freios nem limites que
propusessem qualquer forma de melhores condições aos
trabalhadores(as) ou à sustentabilidade social; (nesse período não
admitia-se se quer falar em auto-sustentabilidade, preservação
eco-ambiental, formação de sindicatos, luta de classes...), todavia
os trabalhadores lutavam corajosamente contra a grande carga horária
de trabalho aplicada aos operários, a qual chegava a 16 horas
diárias; lutavam também: contra a exploração do trabalho
infantil, muito utilizado nas fábricas; contra a mais- valia
(apropriação indevida na
divisão dos lucros da produção, ou mais radicalmente, o roubo da
mão-de-obra do trabalhador) como
afirmou Karl Marx em sua obra salário preço e lucro admitindo que o
salário que o trabalhador recebe é insignificante perante a riqueza
que o trabalhador produz.
“
A terrina de que os operários comem é cheia com todo o
produto nacional e de que o impede de tirar mais dela não é a
estreiteza da terrina e nem a escassez do conteúdo, mas a pequenez
das suas colheres” (MARX, Karl, Salário, Preço e Lucro)
Passados mais de dois
séculos das revoluções industrial e francesa e da mudança de
hegemonia do capital, algumas décadas já centralizado pelos EUA,
os operários continuam regados e acompanhados de mazelas e barbáries
sociais, econômicas, culturais... Já os empresários conseguiram
acumular mais riquezas à custa da exploração da mão de obra dos
trabalhadores e das trabalhadoras.
No decorrer desse
processo, principalmente no eixo urbano, acentuaram-se os bolsões de
miséria;, cresceu a violência simbólica e física sobre os
operários e funcionários públicos; no campo vários sindicalistas,
defensores do meio ambiente foram assassinados e por fim, subiu
notadamente o envolvimento de crianças e adolescentes no mundo das
drogas e da marginalidade, bem como o desemprego é notório no
estado capitalista:
"O desemprego é a face verdadeira do neoliberalismo. Seus efeitos são terríveis, como conhecem com clareza. Assistindo as suas mazelas. Ele retira do trabalhador as condições mínimas para lutar pelo salário. Hoje, o trabalhador luta. Principalmente, pelo emprego. E está perdendo essa luta . O neoliberalismo reduz as massas trabalhadoras a legiões de desempregados que perambulam pelas ruas, dormem nas ruas e não encontram lar (...)(Sodré Werneck,1999)"
O mais preocupante é que
os fatos recentes ocorridos no Brasil, demonstram que o eixo central
na produção capitalista não é tão diferente do início do século
XVIII, mesmo porque o empresariado preocupa-se tão somente com a
obtenção de riquezas, através da exploração da mão-de-obra dos
trabalhadores. Um entre tantos fatos produzidos por tal sistema está
ocorrendo bem próximo dos olhos paraenses, o
individualismo, bem
aplicado pelos dirigentes do capital, o qual contribuiu
significativamente para que o trabalhador, a trabalhadora preocupe-se
somente consigo próprio, esquecendo que a luta por direitos são
bem mais coerentes quando lutadas de forma coletiva.
O fenômeno do
individualismo não foi "privilégio" tão somente dos trabalhadores e
trabalhadoras, também ocorreu nas organizações sindicais, nos
movimentos estudantis; comunitários; étnicos e tantas outras formas
de organizações que lutam de forma setorizada, sabendo que as lutas
dos movimentos sociais, sindicais, estudantil.... são mais fortes e
organizadas quando caminham unidos, como classe trabalhadora e não
de maneira individualizada.
É fundamental recordar
que os paraenses já enfrentaram a burguesia de maneira coesa, nesse
período rompeu-se com o individualismo de categorias ou segmentos
sociais. Para dar coerência a tal fundamentação é necessário
relembrar alguns movimentos, fatos sócio-históricos abaixo citados,
que eclodiram no Pará e contaram com a participação e organização
de vários setores de esquerda, da igreja, de sindicatos, dos
movimentos estudantis, dos indígenas, dos negros....:
- A adesão do Pará a independência do Brasil; XIX
- O movimento da cabanagem no século XIX;
- A luta contra a ditadura militar no século XX;
- A luta pelas diretas já e pela redemocratização do Brasil no século XX;
- A resistência do MST como movimento revolucionário, o qual iniciou no Pará;
- A luta pela meia passagem em Belém que levou centenas de pessoas as ruas desta capital;
- A organização das comunidades, para deliberar a cerca do Orçamento Participativo em Belém no final da década de 90;
- A proximidade e a união dos movimentos sociais e sindicais em defesa dos 17 sem terras assassinados em Eldorados dos Carajás;
- Belém tornou-se a capital mundial da esquerda em 2001, quando abrigou centenas de revolucionários no Foro Internacional Contra o Neo-liberalismo e a Favor da Humanidade realizado na UFPA;
- A união dos movimentos sociais organizados e da sociedade civil, para a não privatização da TELEPARÀ e da CELPA;
- As homéricas greves dos professores, dos rodoviários, da construção civil; e tantos outros movimentos que paralisaram e engessaram a classe empresarial e o governo.
- e a defesa da não divisão do estado entre tantos outros;
Quando
foca-se nas análises das ações de vanguarda praticadas pela classe
trabalhadora paraense, acima citadas, poder-se-ia elencar centenas de
movimentos e ações qualitativos, os quais demonstraram e demonstram
a unidade, a coerência, a força da organização dos trabalhadores
e trabalhadores deste estado, esse
fato deixou e deixa bastante atabalhoado muitos grandes e novos
ricos, que bebem os seus uísques por conta do sangue ceifado de
muitos trabalhadores e trabalhadoras deste país e do Estado do Pará.
Feitas as análises acima, torna-se necessário que os dirigentes de esquerda,;dos sindicatos; dos
movimentos populares; dos movimentos sociais; dos movimentos estudantis e tantos outros unam-se
para cobrar do estado as melhores condições de trabalho aos
trabalhadores e trabalhadoras. Assim como deve-se verificar o
verdadeiro inimigo da categoria dos trabalhadores, que são os
grandes empresários, os latifundiários, os políticos picaretas,
pois eles nutrem o estado de valores elitistas; dividem as
categorias; mantém a mais valia sobre os empregados; nutrem um
exército de reserva de mão de obra excedente no eixo do desemprego;
hierarquizam o aprendizado intelectual; desqualificam, e tentam
dizimar as concepções contrárias às do capitalismo; nutrem
sentimentos de xenofobia aos nortistas e nordestinos; discriminam e
alijam as religiões contrárias à hegemonia capitalista e por fim
escravizam os nossos trabalhadores e trabalhadoras da iniciativa
pública e privada em uma industria cultural, hegemônica e
consumista.
Porisso afirma-se a
necessidade urgente da união das categorias que sofrem as mazelas
criadas pelos hegemonicistas, e/ou pelo empresariado que pilham e
apropriam-se indevidamente da produção dos trabalhadores e
trabalhadoras do nosso estado.
“Os
proletários nada têm a perder a não ser suas algemas. Têm um
mundo a ganhar. Proletários de todo o mundo: uni-vos". Karl
Marx e Friedrich Engels
“A ousadia e a rebeldia são os primeiros passos para construirmos a sociedade com bases comuns, não no futuro, pois esta fora plantada no passado por valorosos revolucionários. Necessitando continuamente ser regada por práxis sociais, acompanhada de formação política, de organização coletiva, de respeitabilidade e confiabilidade, assimilando que o futuro tem suas bases no passado, mas. Constrói-se no presente” (FREITAS, Asarias Favacho, 2009)
Referência:
Freitas,
Asarias Favacho, A
Literatura como Alternativa Sociológica. O Cotidiano Comum no
Incomun: Chegando na Hora da Saída,
Editora Sem Livros.Blogpost, Belém Pará, 2009.
Lênin,
V. I, Que Fazer As Questões
Palpitantes do Nosso Movimento,
editora Hucitec - São Paulo, 1979
MARX,
Karl. O
capital.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.
SODRÉ, Nelson Werneck , A
Farsa do Neoliberalismo, 6.ª ed,
Graphia, Rio de Janeiro. 1999.